segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Florbela Espanca, uma poetisa portuguesa dos anos 20

Filha de Antónia da Conceição Lobo e do republicano João Maria Espanca nasceu no dia 8 de Dezembro de 1894 em Vila Viçosa, no Alentejo. O seu pai herdou a profissão de sapateiro, mas teve outras profissões. Era casado com Mariana do Carmo Tosca. A sua esposa não pôde dar-lhe filhos. Porém, João Maria resolveu tê-los (Florbela e Apeles, três anos mais novo) com outra mulher, Antónia da Conceição Lobo, de condição humilde. Ambos os irmãos foram registados como filhos ilegítimos de pai incógnito. João Maria nunca lhes recusou apoio nem carinho paternal, mas reconheceu Florbela como a sua filha só dezoito anos depois da morte dela.
Entre 1899 e 1908 Florbela frequentou a escola primária em Vila Viçosa. Foi naquele tempo que passou a assinar os seus textos Flor d’Alma da Conceição. As suas primeiras composições poéticas datam dos anos 1903-1904: o poema “A Vida e a Morte”, o soneto em redondilha maior em homenagem ao irmão Apeles, é um poema escrito por ocasião do aniversário do pai. Alguns anos depois, Florbela escreveu o seu primeiro conto: “Mamã!”. Após um ano, faleceu a sua mãe, Antónia, com apenas vinte e nove anos.
Flor ingressou então no Liceu Masculino André de Gouveia em Évora. Foi uma das primeiras mulheres em Portugal a frequentar o curso secundário. Devido à Revolução republicana de 5 de Outubro de 1910, os Espanca mudaram-se para Lisboa. Florbela interrompeu os estudos mas aproveitou o tempo para leituras (Balzac, Dumas, Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro, Garrett).
Em 1913 casou-se em Évora com Alberto de Jesus Silva Moutinho, seu colega da escola
Completou o 11º ano do Curso Complementar de Letras e matriculou-se na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Foi uma das catorze mulheres entre trezentos e quarenta e sete alunos inscritos.
Um ano mais tarde a escritora sofreu as consequências de um aborto involuntário, que lhe teria infectado os ovários e os pulmões. Mudou-se para Quelufes, onde apresentou os primeiros sinais sérios de neurose (desordem mental que, embora cause tensão, não interfere com o pensamento racional ou com a capacidade funcional da pessoa).
Em meados do 1920 abandonou os estudos na faculdade do Direito. No ano seguinte, divorciou-se de Moutinho para casar com o amante, com quem já vivia.
Entretanto, Apeles, o irmão da escritora, faleceu num trágico acidente de avião. A sua morte foi para a autora realmente dolorosa. Entretanto, a sua doença mental agravou-se bastante. Em 1928 ela teria tentado o suicídio pela primeira vez. Mais tarde, tentou o suicídio por duas vezes mais. Após o diagnóstico de um edema pulmonar, a poetisa perdeu o resto da vontade de viver. Não resistiu à terceira tentativa do suicídio. Faleceu em Matosinhos, no dia do seu 36º aniversário, a 8 de Dezembro de 1930. A causa da morte foi a sobredose de barbitúricos (sedativos e calmantes).
Florbela Espanca, defende que o ser poeta alcança a Dor, que a poesia é a base de definição de uma atitude de sofrimento.
Em Florbela há um certo deslumbramento por uma sorte não alcançada, um pessimismo tão fundo enleia-se na capacidade de sofrimento único, desde a alusão à vivência sozinha no “Castelo da Dor”, até à categoria de Castelã da tristeza.
Na relação existente entre a poetisa e a escrita, por um lado existe a noção de que o poeta é um sonhador, um criador de ilusões. Por outro lado, a de que a poesia é a palavra iniciática, mas inaudível para a maior parte das pessoas. Descreve o poeta como um ser solitário, é aquele que fala da sua Dor e a transporta para um Infinito. Consciencializa um carácter trágico da vida, caracterizando-a como uma desgraça que se assume com imensa dor, uma infinita capacidade de chorar, surgindo uma das principais temáticas de Florbela, a morte. Mas esta, nas suas poesias também recorre à sensualidade. Como já referida, na primeira parte da biografia, esta teve uma vida tumultuosa, o que se reflecte nos seus estados excessivos de aniquilamento que caracterizam a sua poesia.
Florbela Espanca viveu algumas paixões, para ela a paixão é um estádio que tem de ser vivido num arrebatamento místico, mesmo que não haja qualquer correspondência com o real.
Alguns dos traços mais interessantes da poesia de Florbela são, por um lado, o pendor radical e afectivo pela noite, pelo crepúsculo. Por outro lado, a noite, triste e pessimista que se avizinha transforma-se em embriaguez e loucura.
Florbela intensificou sempre a ideia de que a vida é uma taça que se deve beber com sofreguidão.
Em suma, a poesia de Florbela é de uma grande expressividade dramática, possui uma carga emocional que a torna diferente da poesia sua contemporânea. Daí a sua poesia ser um paradigma de um tempo e de uma ambiência mental feminina.


Curiosidades:
A poetisa teria deixado uma carta confidencial com as suas últimas disposições, entre elas, o pedido de colocar no seu caixão os restos do avião pilotado por Apeles na hora do acidente. O corpo dela jaz, desde 17 de Maio de 1964, no cemitério de Vila Viçosa, a sua terra natal.

Trabalho feito pela Inês, Joana Sousa e Joana Marques 12D

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